Sónia Brandão

por Sónia Brandão

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Viver um grande amor — viver dentro de um romance intemporal, com personagens inesquecíveis que fogem da nossa realidade e da verdadeira vida — é o sonho de um grande número de pessoas ao redor do mundo, mas do que se trata, de verdade, esse grande amor? 

O que queremos quando falamos de um grande amor? 

Queremos alguém que nos compreenda, que nos faça seguir em frente, em todos os momentos, com uma palavra de afeto? Ou queremos uma paixão louca, mais física, mais intensa, que nos faz perder a lógica, o raciocínio e querer respirar o mesmo ar, dia e noite? 

Aos 20 anos, queremos a paixão, a loucura, a certeza de que a vida acaba se aquela pessoa não ligar, não aparecer durante 24 horas. Com o passar dos anos, por mais que ainda queiramos alguns momentos de loucura, queremos mais. Queremos olhar para o outro e saber o que se passa na sua cabeça, sem que seja preciso trocar palavras. Queremos olhares cúmplices que nos levam a imaginar outro cenário, outro lugar. Queremos que alguém nos diga que somos especiais, sem motivo. 

Queremos um amor. Não uma paixão louca e desenfreada. 

O que é o amor? 

Um poeta diria que é o encontro de duas almas que se completam para lá da realidade. Duas almas predestinadas no céu e que, por vezes, se encontram na terra para concluir um ciclo cheio de momentos. 

Uma cínica dirá que é o prazer de encontrar alguém que te compreende e caminha junto a ti com um passo decidido, sem nunca quebrar e sem nunca te quebrar. 

Um ser dependente dirá que é alguém que te leva para a vida, que te faz deixar de olhar para os outros com inveja e dá um sentido a tudo. 

Alguém realizado dirá que é alguém que aparece para somar, para acrescentar algo mais à tua vida. 

Alguém secretamente infeliz dirá que é algo que dá demasiado trabalho, demasiadas dores de cabeça, que é tudo demasiado — mesmo que, no fundo, ainda tenha esperança de que esse dia aconteça.  

Na verdade, não existe uma fórmula mágica. Aquilo que para muitos é mais uma tábua de salvação contra a solidão, para outros é o verdadeiro sentido da vida. Aquilo que serve para nos salvar, em alguns casos, noutros casos é somente a destruição de tudo. E o recomeço de tudo! 

Adorava ter uma definição para mim, mas não tenho. 

Para mim, amar alguém é conhecer e identificar-me com uma pessoa; ter objetivos parecidos, mas não iguais; aprender a compreendê-la, mesmo não concordando; respeitar a pessoa que encontrar e admirá-la pelo que ela é, por aquilo em que acredita. Gostar da sua companhia e querer estar com ela sem a pressão do “ter que”. É a calma de uma relação madura com expectativas, com momentos de loucura, mas com objetivos bem reais, mais terra a terra. Será isto o amor? Ou somente o desejo de ter um amigo que me acompanhe nos momentos mais felizes, ou mais desesperantes? 

Definir a palavra amor é fácil. São quatro letras juntas que formam uma palavra. Mas não encontramos duas pessoas que o descrevam da mesma forma.

Cada um de nós vive o amor à sua maneira. Cada um interpreta-o da sua forma. E cada um procura-o à sua maneira. Se, para mim, algo não faz sentido, não quer dizer que para os outros seja igual. Nunca o é. Eu tenho pressa porque sempre tive. Não sei viver na calma, que alguns transmitem, mesmo que de uma forma falsa. Não saber o amanhã, de uma forma geral, afeta-me. Mais do que deveria. Mas eu sou assim. Gosto de estar sempre um passo à frente. 

Acho que sou a tipa que ama com tudo e desiste com a mesma facilidade, quando as coisas não andam da forma que quero. Por muito que, na minha cabeça, faça sentido de outra forma. Eu sou uma desistente. Quando tenho que ceder e esperar pelos outros, prefiro seguir em frente sem olhar para trás. Não quero a incerteza, nem o julgamento dos outros.

Mas a ironia é que a vida tem o seu ritmo, pouco preocupada com o que quero, ou espero, e tem um prazer quase maquiavélico de me colocar em situações similares, com anos de distância, esperando que eu tenha aprendido alguma coisa. A ilusão do destino! Normalmente, não aprendemos. Temos uma tendência para repetir os mesmos erros em momentos diferentes. 

Há anos, prometi a mim mesma que não me iria envolver emocionalmente com um amigo, com alguém do meu grupo de amigos. Anos depois, encontro-me numa situação similar, mesmo que muito diferente. Trata-se de um amigo recente, que não me conhece, mesmo que ache o contrário, e que tem vindo a entrar na minha vida e na minha rotina de uma forma consistente, paciente. Sem desesperos. Sem pressas. Sem pressões de nenhuma espécie. 

Noventa por cento das vezes preferia que não tivesse acontecido. Preferia alguém novo, sem visões pré concebidas sobre mim. Sabemos quem somos há anos. Conhecemo-nos há pouco. Aonde isto nos vai levar, não sei.

Apetece-me esperar para ver, ou a avançar para algo novo? Essa é a pergunta de um milhão de euros! 

Não vou esperar eternamente. Um dia destes, vou olhar para trás e perceber que esta foi mais uma fase de aprendizagem na vida. E, daqui a algum tempo, vou fazer exatamente a mesma coisa, porque os teimosos não mudam! 

Hoje, mais do que tudo, quero viver. E ser feliz sempre que possa. Quero ser eu, com os defeitos e as qualidades que me reconhecem, e com muitos mais, mas quero ser eu. Não quero esconder-me dentro de uma redoma, como fiz durante anos.

Quero viver! 

Quero aprender com tudo, ensinar o que me for permitido, viver os meus sonhos, voltar a acreditar naquilo que, durante anos, achei ter perdido: o poder da criatividade. 

Quem diria que eu iria voltar a escrever, como fiz durante anos, cheia de ilusão de que, um dia, algo de bom advenha daqui! Fiquei sem criar palavras, frases, durante anos. Em 2022, voltei a fazê-lo. Não sei porquê. Mas agradeço seja o que for por ainda o conseguir fazer. Sempre gostei de dissertações, talvez mais do que de estórias aleatórias. Algumas quero colocar no papel. Mas o mais importante é voltar a conseguir criar. Não importa o quê. 

Estou bem comigo? Sim, estou! 

Por causa de alguém? Não!

Por mim!

Eu estou bem. Hoje. Amanhã, logo se vê, mas hoje estou bem. Melancólica, como sempre que escrevo, mas bem. Sinto-me leve. Sinto-me preparada para viver, e deixar de ver os outros a fazê-lo.

 

About the Author: Sónia Brandão
Sónia Brandão
Apaixonada por palavras, aprendeu, desde nova, a criar realidades paralelas na sua mente — onde tudo era possível. "Amor de Perdição" foi o primeiro livro que leu. Tinha 13 anos e foi a mãe que lho sugeriu para se ocupar. Desde então, nunca mais parou de ler. Durante alguns anos, no entanto, parou de escrever: sentiu que tinha deixado de fazer sentido. Mas o confinamento fê-la regressar à escrita com mais força e determinação. Este ano, surgiu a vontade de partilhar com os outros o que coloca no papel.

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