por Albertina Silva
Escreve com o coração… Escreve com o coração… Escreve com o coração…
E a pequena no meu sonho:
Era uma vez uma história — a tua, a minha, a de qualquer pessoa. Ninguém fala a mesma língua, daí todos se falarem e poucos, realmente, se compreenderem.
Ninguém lê os mesmos livros. Ninguém gosta da mesma coisa. Ninguém vê a vida e os acontecimentos de forma igual e muito menos os sente de igual forma.
E isto começa na família. Daí o início de uma grande confusão.
Com isto, quero dizer-te, Beatriz, que somos todos iguais e somos todos, graças a quem Tu quiseres, diferentes.
Há que aceitar, abraçar, acolher, essa diferença. Mas, primeiro, aceita, abraça e acolhe a tua diferença. Custe o que custar. Demore o tempo que demorar.
Por favor, não te compares e nunca queiras ser igual aos outros. Evitas muitos transtornos na tua vida.
Era uma vez.
Era uma vez já passou. Não queiras lá voltar. Era uma vez foi como foi. Estás noutro lugar, de ti. Era uma vez doeu, não era para ti. Era uma vez, não és mais quem a viveu. Era uma vez que foi tão bom e, sim, teve de mudar, evoluir. Era, uma vez, uma história que não és mais tu. Aconteceu, viveste, sentiste, aprendeste, morreu: nasceste.
Essas vezes, Beatriz, que mais parece que vives uma longa repetição, embora com outros rostos, outros acontecimentos. Porém, em essência, se observares bem, é sempre a mesma história, está sempre a querer levar-te a algum lugar.
Reflete.
Em contos de verdade, nunca se dá a comida pronta, mas ensina-se a cozinhar.
Medita.
Em criança bem pequenina, meditavas e não tinhas ainda lido um único livro; mas bastava o olhar de quem amavas, o céu, a areia nos teus pés, as ondas do mar a ir e a vir, o colo de alguém especial para ti, um brinquedo, uma caminha boa e quentinha, e lá estavas tu a olhar, a sentir, o nada. Sem aflições. Sem querer, querer, querer, falar, falar, falar, temer, temer, temer. Bem pequenina essa criança, a meditar. Tu, só a sentir: a meditar. Que leveza.
Beatriz, quando acordares no teu quarto, pela manhã, deixa-te estar um momento sem fazer nada. Inspira e expira, bem presente no teu corpo. Sente o teu corpo, como se fosse o corpo do teu homem, ou de outro alguém que ames muito. Sente realmente cada respiração e observa o teu corpo a responder-te. Não desistas. Aceita a realidade que vives agora. Agradece por estares viva, e não desistas.
A tua mente, que é um órgão teu, que ainda não dominas, vai tentar arrancar-te desse lugar com mil e uma razões. Tu observa, tira-lhe a pinta, e deixa-te estar a respirar e a sentir o teu corpo mais um pouco. Depois, sai. Não o faças por obrigação — faz uns minutos e sai, vai à vida, sem julgamento. E volta lá à noite, ou noutro dia, mas volta. Faz o mesmo, e de cada vez terás mais consciência de algo, algo que não se escreve, ou se consegue falar, mas se sente. É simples, mas vai custar; paga esse preço, se quiseres.
Começas, a certa altura, depende de ti, a ver que afinal tu podes ser, e és, a dona de ti. Lembra-te: a mente é um órgão, tu és a dona da tua mente. E cada um tem a sua.
Não é preciso ler milhares de livros, sequer dois, então quem não gosta de ler está salvo. Não é preciso ser doutorado, então quem estudou o básico, ou até nada, e leva na vida a sua maior escola, está salvo. Não é preciso ser jovem, ser a mais bonita, ter as melhores coisas e os melhores isto ou aquilo, que aliás é tão relativo, porque estão todos salvos.
Que maravilha! Não achas, Beatriz?
O universo não separa, não compara, não diminui ou aumenta; expande!
Todos temos uma oportunidade de nos voltarmos a sentir saudáveis, plenos, e a caminho de sua autorrealização como indivíduos que somos neste Todo. Lembra-te desta palavra: indivíduos.
Todos os que passam pela depressão, pelo pânico, pela insegurança, pela injustiça, pela baixa autoestima, pela revolta, pela falta de motivação, por tanta outra situação tão conhecida — muitas vezes, escondida — deveriam começar por aqui. As vezes que forem necessárias.
Beatriz, fala disto a amigos e amigas, sem a arrogância de saberes algo. Não digas que resulta até tu própria te tornares o resultado. Ler, por si só, não te faz sábia. Praticares qualquer atividade alternativa não te faz essência. Seguires tendências não te faz maior. Portanto, não julgues seja quem for, e nem todas as pessoas são boas para todos. Não precisas de gostar de todos, e querer que todos gostem de ti.
Regressa às tuas raízes. Humildemente, aceita a vida como ela é no momento real. A ansiedade é um trem sem travões. Não tenhas pressa. Anda p’ra cá. Para agora.
Olha para a tua história e diz: Fim.
Consegues? Parece que estou a dizer-te algo perturbador, não é?
Está tudo bem.
Simplesmente, medita. Um bocadinho de cada vez, assim a vida, um dia de cada vez. Faz por aprender a usar a respiração como ferramenta para todos os momentos da tua vida. Todos, sem excepção, têm essa ferramenta.
Isso é muito especial: Todos.
A vida, Beatriz, é, em si, um desafio. Um facto, cada situação. Nenhuma vida é menos ou mais do que outra. Cada um escolhe o seu caminho, mesmo quando pensa que não tem escolha.
É indiferente se, neste momento, milhares de pessoas tomam comprimidos para manter alguma paz em sua tempestade, se fogem para isto ou para aquilo para ver se passa.
Está tudo bem.
Antes de qualquer coisa, apenas aprende a estar presente na tua respiração; e faz por meditar um bocadinho de cada vez, sem fazer nada.
Uma receita básica, simples, e verdadeira. Ao alcance de todos.
O resto vem, demore o tempo que demorar. Não tenhas pressa.
Tu és a autora da tua vida.
E começar é por baixo, pelo princípio.
E, todos os dias, é o teu primeiro dia.
Respira. Medita um pouquinho de cada vez, sem fazer absolutamente nada. E cuida todos os dias de ti.
Sente-te todos os dias. Aprende a decifrar cada sensação no teu corpo, a tua linguagem mais íntima e verdadeira.
Responsabiliza-te por ti.
Compreende, Beatriz, a poesia dentro da realidade: Escreve com o coração quer dizer isto: Vive com o teu sentir.
E agradece.
Agora, vou deixar-te. E nunca te deixarei.
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