Inês Biu Faro

por Inês Biu Faro

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Quando Exupéry dizia que cada pessoa que passa, pelas nossas vidas, deixa um pouco de si e leva um pouco de nós, foi-me difícil perceber. Até aprender a ver com o coração, porque o essencial é invisível aos olhos. E, então, deixei de escrever com tema, assunto ou algo que me prendesse. Passei a escrever com o coração, porque queria ser lida por corações.

As frases idiomáticas de “O Principezinho” sempre me pareceram isso mesmo: difíceis de entender e pôr os seus significados em prática, até ao dia em que quis ler com o coração. E passei a escrever para dedicar palavras a quem mas merecia, fosse eu mesma, fosse algum amado, família, amigos até. Passei a escrever aquilo que me saía na hora, o que me fazia sentido, o que me fazia bem.

Houve alguém que passou por mim e levou consigo um sorriso meu e a minha gratidão, enquanto deixava o bom conselho: «Escreve. Escreve muito e sempre. Será sempre a tua melhor terapia para curares o coração!» Assim fiz. Comecei e nunca mais parei.

Não só para curar, mas também para celebrar, porque tudo me faz mais sentido quando o transformo em palavras, em papel. Ainda que, em tempos, pensasse que, ao escrever, ficaria com a cabeça vazia de memórias, com o tempo aprendi que deixá-las no papel só as preencheria mais, só as deixaria mais vivas — tanto em mim como em quem as lesse.

De coração para coração, sem pensar se me leriam como coração sofrido ou em celebração, sem pensar que tipo de coração me fosse ler, não parei de escrever. E permiti-me parar cada vez mais para olhar e escutar, ser e estar. Deambular com um propósito, semear empatia sem olhar a retornos. Com palavras que abraçam, confortam, apaixonam e amam.

E não, nem sempre é fácil. Já parei. Já pensei em desistir. Já achei que era só mais uma. Até que, pouco a pouco, comecei a reler-me, comecei a olhar para mim mesma e a perceber que é isto. Que sou genuína. Que posso até partilhar demais, mas o que é demais para os outros é, para mim, ser eu mesma. É desprender-me de tal maneira que faça os corações que me leem desprenderem-se também e darem asas às suas dores e alegrias, permitindo-se sentir. Permitindo-se ser! E não há nada mais bonito do que Ser Humano!

E, finalmente, dediquei-me ao meu coração, às letras e páginas que me formam. Porque podem calar-me a voz, mas não me calam a caneta.

About the Author: Inês Biu Faro
Inês Biu Faro
Ainda não conhecia o abecedário quando começou a "escrever". Enchia cadernos com linhas "escritas" à sua maneira, com todos os seus contos de fadas e sonhos. Ao longo da escolaridade, aprimorou o gosto pela escrita e desde que se lembra que escreve diários. Não é fácil ser várias mulheres numa única e só os diários a compreendem, por falar consigo mesma. Escreveu, escreve e escreverá sempre com o coração, com emoção, de uma mulher para tantas outras, de um coração para tantos outros. Tem um manuscrito por editar. Será desta que sairá do forno? Esperemos que sim!

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