por Sónia Brandão
O destino tem caminhos curiosos.
Traz-nos sempre a surpresa, o inesperado, seja no bom ou no mau sentido.
Vezes e vezes sem conta, ele chega sem avisar, abanando todo o processo da vida, e faz-nos seguir direções inesperadas, com uma assertividade muito caraterística.
Imaginei que, por agora, nada me iria fazer mudar de direção. Achei que a maturidade da idade, a experiência de vida e a sabedoria das escolhas seriam seguras, dentro da pouca previsibilidade da vida. Mas, como só o destino sabe fazer, nada foi como eu imaginei.
Durante anos, fiquei dividida entre aquilo que seria escolha minha e aquilo que, para muitos, seria somente o destino a acontecer. Nunca fui radical em nenhuma das opções. Vivi de acordo com o que acontecia na minha realidade e, em alguns momentos, acreditava mais numa das partes do que na outra.
Mas as crenças pessoais têm muitas formas de serem questionadas.
Sonhei contigo.
Imaginei-te.
Nunca vi o teu rosto.
Se te encontrasse no meio da rua, nunca saberia que eras tu.
Só conheci o teu toque.
Um sonho que mudou tudo.
Durante semanas, pensei no sonho, mas nunca lhe dei importância. Pelo menos, não demasiada.
Vivi a vida, como normalmente, com as loucuras diárias e com a calmaria necessária para descansar e existir.
Semanas depois, voltei a recordar-te. Revivi o sonho, na minha mente, e questionei-me sobre o porquê de o fazer.
Mesmo sem nunca conseguir encontrar respostas.
Nesse dia, passei horas contigo em pensamento, não sabendo quem eras, mas tendo a certeza de que existias. Momentos de loucura, como diria o meu “eu” racional.
Achei, por bem, não comentar esta espécie de obsessão com ninguém, mesmo porque não estava convicta de que esta fosse a uma realidade.
Mas o destino, no seu humor mais interessante, digamos, agiu.
Vamos para a parte louca desta história.
Restaurante aleatório. Jantar normal, sem tensões, sem momentos desconfortáveis. Enfim, amigas a jantar e a pôr a conversa em dia.
Tu entras no restaurante.
Não cruzamos os olhares. Acho que nem nos vimos, mas hoje sei que ambos sentimos a presença um do outro.
Eu senti que este era um encontro marcado.
Senti que tu, o homem com quem sonhei, podias ser real, mas o “eu” racional achou que estava somente a delirar. Este tipo de coisas não acontece na vida real.
E se acontecer?
Acontece.
Sentaste-te à minha frente, noutra mesa e, desde esse momento, não parámos de nos olhar. Todos aqueles que estavam connosco desapareceram. Nenhum de nós participou das conversas das respetivas mesas. Estávamos numa espécie de sonho — achamos nós depois —, de encantamento particular, do qual não conseguíamos fugir.
Nenhum de nós falou. Nenhum de nós desviou o olhar, durante horas.
Levantámo-nos da mesa, ao mesmo tempo; caminhámos na direção um do outro e parámos, frente a frente, com os olhares colados. Noutro momento, sei que seria uma situação pouco normal, para não dizer idiota. Mas não o foi. Foi natural, como deveria ser. Sorrimos, tocaste o meu braço e disseste o meu nome.
Tu sabias quem eu era. Viste o meu rosto.
Eu reconheci o teu toque.
Desde esse dia que estamos aqui, como testemunhas do que quer que seja.
Explicações não tenho. Deixei de as procurar.
Mas estamos aqui, como prova de algo, ou somente como almas que se reencontraram no momento certo.
Quanto mais não seja, somos verdadeiras testemunhas dos curiosos caminhos do destino.
Os sonhos podem ser reais, sempre que aparecem no momento certo.
Mas podem ser destruídos com um simples piscar de olhos.
Vou lutar pela minha realidade, que, noutros tempos, foi somente um sonho…