Sónia Brandão

por Sónia Brandão

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Vale tudo para viver uma paixão?

Vale?

No momento em que te conheci, em que trocamos o primeiro sorriso tímido, o primeiro “Olá” meio que envergonhado, naquele momento em que ouvimos de verdade a voz um do outro, eu percebi que me podia apaixonar por ti.

Podia, e o futuro iria mostrar-me com toda a clareza que o podia.

Trocamos confidências. Criamos laços desde o primeiro momento.

Parecia algo pouco real, tal foi a naturalidade que tomou conta de tudo.

Nada foi forçado. Passado algum tempo, sorríamos com cumplicidade a cada frase terminada pelo outro. Parecia que já nos conhecíamos. Parecia que sempre estivemos presentes na vida um do outro.

Assim nasceu a minha paixão por ti.

Não louca, não sem freios, mas fulminante, necessária, nada pensada, como as paixões devem ser. Chegam, tomam conta de tudo e, eventualmente, transforma-se em algo mais.

Deixei-te entrar na minha vida como se aqui tivesses estado sempre.

Não esperaste a minha autorização, a minha concordância. Não, entraste e apropriaste-te de tudo, da minha mente, do meu coração. Por vezes, até das minhas vontades.

Aprendi a ceder em coisas que, até então, nunca teria permitido. Bastava ver o teu sorriso para que as minhas vontades desaparecessem, para que eu me moldasse a ti, com um sorriso no rosto e na alma.

Apaixonei-me por ti.

A paixão, com o passar dos dias, tornou-se o motor da minha vida. Pouco importava o que acontecia. Bastava a tua presença, de alguma forma, para tudo me fazer sorrir.

Mas a realidade também chegou.

Tu não eras o que parecias.

Tu não foste honesto. Pelo menos, não na totalidade. E, quando tudo apareceu, quando a tua vida se apoderou da nossa realidade, tive que escolher.

Ignorar que tu não eras livre para te entregares à paixão que nos consumia, ignorar que tinhas outra vida e outra realidade longe de mim, ou assumir o risco e ceder perante as minhas vontades mais íntimas?

Escolhi-te!

Escolhi-te sem pensar. Vivi a paixão. Vivi a nossa história.

A paixão, com a mesma força com que chegou, também se foi desvanecendo.

Foi perdendo a magia com o passar dos dias, com as escolhas que me atormentavam, com as conversas pouco claras, com as desilusões.

E, no fim de tudo, a paixão que me comandou, um dia, também contribuiu para as minhas inseguranças futuras.

Valeu a pena?

Hoje, pergunto-me diariamente o que ganhei com as minhas decisões, questiono o passado, porque ele não me permite olhá-lo com a paz de outros momentos.

Se o tempo voltasse atrás, eu sei que te iria escolher, que iria viver tudo de novo, mesmo sabendo que este seria o sentimento que iria perdurar dentro de mim.

Porque me senti mais viva do que em qualquer outro momento da minha existência.

Um brinde à paixão que transforma a vida, a cada momento, mesmo que desapareça e se torne somente numa memória distante, que traz um sorriso secreto ao olhar, por vezes, perdido.

About the Author: Sónia Brandão
Sónia Brandão
Apaixonada por palavras, aprendeu, desde nova, a criar realidades paralelas na sua mente — onde tudo era possível. "Amor de Perdição" foi o primeiro livro que leu. Tinha 13 anos e foi a mãe que lho sugeriu para se ocupar. Desde então, nunca mais parou de ler. Durante alguns anos, no entanto, parou de escrever: sentiu que tinha deixado de fazer sentido. Mas o confinamento fê-la regressar à escrita com mais força e determinação. Este ano, surgiu a vontade de partilhar com os outros o que coloca no papel.

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