por Sónia Brandão
O silêncio que me habita.
O silêncio que me domina.
O silêncio que me define.
Escolhi o silêncio ao invés das palavras.
Escolhi o silêncio para não me deixar condenar pelo som das minhas palavras.
Sempre que me falavas, eu escolhi o silêncio para não me comprometer.
As acusações que me fizeste sempre ficaram sem respostas. O silêncio sempre foi a minha vitória contra tudo.
Por vezes, sei que pensaste que eu te dava razão, em relação a tudo, pelo simples facto de não me defender, mas para mim a falta de resposta da minha parte sempre foi a resposta para tudo.
A vida ensinou-me a não argumentar contra o irracional. De nada serve fazê-lo.
Quando o lado racional parte e o emocional toma o poder, não faz sentido. O poder de argumentação desaparece e, para mim, somente o silêncio tem significado.
Por vezes, percebeste que essa minha forma de agir era mais uma defesa do que outra coisa.
Mas, na verdade, pelo menos para mim, era somente uma forma de deixar as ridículas palavras que reproduzias caírem no vazio, para que percebesses de verdade onde estavas.
A parte negra do silêncio é que tudo fica guardado dentro de nós, tudo fica preso na nossa mente até ao dia em que tudo sai.
E, nesse dia, não há silêncio — somente palavras mordazes, duras; acusações guardadas a sete chaves; momentos que para pouco mais servem do que para magoar e causar dor.
Dor que nunca é esquecida, porque é permanente de alguma forma.
E essas feridas provocadas pela falta de silêncio jamais serão curadas.
Posso, como dizes, medir os meus silêncios e usá-los, sempre e quando os acho adequados, mas tenho que aprender onde e quando os devo abandonar e fazer-me presente, fazer-me ouvir por mim, principalmente.
Mas, para que o possa fazer, tens que fazer o oposto: aprender quando deves ficar em silêncio. Existem momentos em que a vida pede moderação, em que as palavras não podem somente ser debitadas, sem se medir a consequência das mesmas.
As palavras magoam, ferem, destroem, talvez mais do que possas imaginar.
Os meus silêncios têm a função principal de não magoar — mais do que tudo, de não te magoar a ti.
Porque as emoções devem ser sentidas, vividas, mas não necessariamente verbalizadas, eu preciso lidar com as minhas, mas não tenho a obrigação ou a vontade de as partilhar com o mundo ou contigo para te dar a liberdade de as julgares e desvalorizares.
Preciso do silêncio.
Prefiro o silêncio contra a irracionalidade do mundo.
Se não verbalizo o que penso, o que sinto continua a ser meu, as minhas fraquezas são minhas, e, quando as partilho em locais inseguros, com pessoas que não me protegem, dou o poder do julgamento, o poder da crítica, o poder da destruição, da minha destruição, a alguém que, por prazer, o vai fazer só porque pode.
Lamento por nós, mas vou continuar em silêncio.
Percebi que nada do que diga altera a realidade. Só expõe a dor que me provocas, que sabes que me provocas, que escolhes provocar.
O meu silêncio diz mais do que um milhão de palavras reproduzidas por mim.
O silêncio que fica.
O silêncio que é meu…
Profundo!