Laura Almeida Azevedo

por Laura Almeida Azevedo

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O amor para sempre é, normalmente, aquilo com que qualquer miúda de oito ou nove anos sonha. De todos os sonhos, é talvez o que parece mais fácil. Os rapazes sonham ser futebolistas. As meninas sonham estar apaixonadas para sempre.

Raramente é diferente disto. Elas assistem, em pequenas, a filmes românticos e pensam: quero uma história destas para mim. Ficam com o estômago embrulhado. Querem enroscar-se numa almofada e fechar os olhos, enquanto a imaginação as leva por mundos cheios de fantasias e de abraços e de «quero-te tanto». Depois, crescem. E percebem que há sonhos que, efetivamente, mudam com a idade — e que há outros que nunca mudam, embora a sociedade assim o queira.

Crescer não se torna apenas difícil por ser uma altura em que ainda estamos à descoberta de nós. Crescer é difícil, sobretudo, porque estamos à descoberta do que a sociedade quer para nós. Muitas vezes, já sabemos quem somos, o que sentimos, o que nos faz sonhar, o que queremos da vida. Apenas não sabemos o que se deve dizer que sentimos, sonhamos e queremos. E é nessa descoberta que, muitas vezes, temos maior dificuldade.

O que quero dizer-te com isto?

Que chegámos ao outro extremo: aquele que diz que uma mulher independente e determinada não acredita no verdadeiro amor, como se escolher um amor desses fosse a escolha mais fácil do mundo — e como se manter uma relação saudável até à morte não exigisse, só por si, uma força, uma inteligência e uma determinação que nem todos têm. Sim, como se fosse poucochinho sonhar algo assim.

Chegámos ao outro extremo: aquele que diz que, se um homem se emocionar, é um homem com bons princípios morais e familiares, mas, se for uma mulher a fazê-lo, é demasiado romântica.

Sabes o que te digo? Não lhes ligues. Nunca lhes ligues.

Se o amor for importante para ti e se achares que serás muito mais feliz com um homem ao teu lado, procura-o. Se desejares muito ser mãe, sê-o — mesmo que tenhas de o ser sozinha, para que nunca abdiques do teu sonho só porque não encontraste ainda a pessoa certa. Se não o quiseres ser, não sejas. Haverá muitíssimos outros papéis, que podes desempenhar ao longo da tua vida, capazes de te fazer feliz — sem que tenhas de vir a ser quem não queres.

O importante é que não te limites aos estereótipos e que a vida que vives seja resultado de uma escolha tua. Não te limites com quinze, nem com vinte anos. Mas, sobretudo, não caias no erro de o fazer aos quarenta — que é quando se sente, curiosamente, uma pressão ainda maior e mais silenciosa para fazer o que se deve.

Porque aos quarenta é desejável estar casada. É desejável ser mãe. É desejável ser bem-sucedida. É desejável não ter vergonhas. É desejável aceitar o corpo que se tem. É desejável filtrar, sempre com um sorriso, o que se pensa e diz. É desejável engolir sapos. É desejável não largar tudo em nome de uma paixão assolapada. Porque é desejável ter juízo. Sim, é desejável saber fazer aquilo que a sociedade espera que se faça.

Não lhes ligues. Nunca lhes ligues mais do que aquilo que a tua felicidade te permite.

Segue sempre o teu coração. Preocupa-te em perceber o que queres. Define para ti os teus objetivos e luta, por eles, até ao fim. Veste a roupa que quiseres. E se, aos cinquenta, te quiseres divorciar, por causa de uma paixão avassaladora, divorcia-te. Não te prendas em ti. Não te ocultes. Sê livre. Sê inteira. Vive os instantes que mais prazer te dão — até mesmo, ou sobretudo, os mais simples. Não precisas de ter sonhos enormes. Precisas apenas de sonhar o que te faz feliz. E, se o que te fizer feliz for uma casa à beira-mar, que seja. Se for apenas um abraço por dia, faz tudo o que for preciso para teres esse abraço.

Mas, independentemente do que sonhares, não lhes ligues. Nunca lhes ligues.

Sonha porque é algo em que acreditas. Sonha porque os teus sonhos são, verdadeiramente, teus. Leva o tempo que for preciso. Mas descobre-os. Dá-te esse prazer, essa razão de ser, essa possibilidade.

Essa possibilidade de seres, verdadeiramente, feliz.

[O amor para sempre ainda existe. Sabias?]

 

Excerto do meu livro “apetece(s)-me”

About the Author: Laura Almeida Azevedo
Laura Almeida Azevedo
Escreveu o livro "apetece(s)-me". Teve um blogue com o mesmo nome. Fundou e geriu uma plataforma de escrita criativa, Desafio-te, durante dois anos. Vive em Londres, onde trabalha como web e graphic designer e em marketing digital. Licenciada em Comunicação, Jornalismo, adora histórias — sobretudo, as reais — e foi também por isso que criou a emootiva.

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