Sónia Brandão

por Sónia Brandão

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O tempo passou. Com o passar dos dias, tu tornaste-te numa memória que me provoca um sorriso espontâneo no rosto.

Mas a vida tem o dom de transformar tudo.

Aquilo que, à partida, não tinha nada a ver contigo trouxe-te de volta à minha mente, e mantiveste-te por lá durante algum tempo.

Comecei a questionar-me por onde andavas, o que tinhas feito nestes meses. Tentei perceber as respostas através de mim, mas não foi o suficiente.

Passado

Encontramo-nos por acaso, sem expectativas, mas por obra e graça do destino de cada um de nós. Criámos uma ligação profunda desde o primeiro “olá “. Trouxemos o respeito, a confiança, a cumplicidade, a verdade, mesmo quando ela era incómoda, para a nossa relação e prometemos honestidade um ao outro.

Falamos, durante horas, sobre a realidade de cada um de nós, sobre as dores que nos habitavam, que ainda nos mantinham presos ao passado e que aprendemos a contar um com o outro.

Naqueles tempos, tínhamos uma cumplicidade que poucos conseguem criar na vida, e transmitimos essa verdade àqueles que nos conheciam. Apesar disso, cada um de nós tinha a sua própria vida em outro lugar.

Vivemos o que para muitos pode ser apelidado de paixão. Para mim, foi mais do que isso. Foi um encontro que marcou ambos, mesmo que nenhum de nós estivesse à procura do mesmo, ou sequer preparado para ele.

Presente

Eu segui a minha vida, depois de nos despedirmos. Vivi novos momentos. Conheci novas pessoas. Não fiquei presa no passado, ao contrário de ti.

Depois de muito pensar e ponderar, enviei-te uma mensagem. Queria saber como estavas. Queria saber se ainda existíamos como amigos. No fundo, queria saber. Só isso…

Acredito que te surpreendi.

Não esperavas a minha volta. Apercebi-me disso pelas palavras que me enviaste.

Pediste desculpa. Tentaste, de todas as formas, justificar o que nunca precisou de justificação.

Voltaste para o que julgas que te faz feliz, mesmo não o estando.

Nunca o poderás ser enquanto o teu maior medo for magoar quem, em algum momento, amaste.

Eu continuo a ser a tua amiga, aquela que te diz o que não queres ouvir e que, no fim de contas, te desarma pela frieza e brutalidade das palavras. Sempre fui assim contigo.

Lamento ter-te magoado com as minhas muito incisivas palavras, mas relê-as e percebe tudo o que não está escrito, mas que está presente.

Como te disse, certo dia no passado, o meu número não vai mudar, e está sempre disponível para quem importa.

Por mais que a minha vida mude, a ligação que criei contigo será sempre mais forte do que os quilómetros que nos separem, por mais meses que passem.

As almas reconhecem-se, mesmo quando o encontro não acontece no momento certo.

Liga. Eu vou atender e transformar o aleatório em realidade.

 

About the Author: Sónia Brandão
Sónia Brandão
Apaixonada por palavras, aprendeu, desde nova, a criar realidades paralelas na sua mente — onde tudo era possível. "Amor de Perdição" foi o primeiro livro que leu. Tinha 13 anos e foi a mãe que lho sugeriu para se ocupar. Desde então, nunca mais parou de ler. Durante alguns anos, no entanto, parou de escrever: sentiu que tinha deixado de fazer sentido. Mas o confinamento fê-la regressar à escrita com mais força e determinação. Este ano, surgiu a vontade de partilhar com os outros o que coloca no papel.

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  1. Mónica 24 Junho 2024 at 18:04

    Gosto tanto.
    Tão alguém que eu conheço.
    Tanta entrega!
    Adoro!

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