Sónia Rosa

por Sónia Rosa

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A vida acontece-nos!

A vida acontece-nos na alegria e na tristeza, na apatia e na empatia, no contentamento e no descontentamento, no acreditar e no desmoralizar, no cair e levantar, no ir e no ficar.

A vida acontece-nos na introspeção, na solidão, na solitude, na solidão a dois e na solidão da multidão. A vida acontece-nos no envolvimento, no desenvolvimento, no exato momento que nem sempre é o momento exato da tão almejada ação.

A vida acontece-nos nos momentos de amargura, de raiva, de dor, de sofrimento, de frustração, de dúvida, de injustiça, de mágoa, de desigualdade, de escassez, de pequenez, de desequilíbrio, de desgosto, na falta de sentido, na falta de apoio, de desamparo, de descrédito, de pesar e de minar a nossa autoestima. A vida acontece-nos — nalgumas situações, porque assim as proporcionamos, mas também noutras que nem sequer imaginávamos nos nossos mais ínfimos sonhos de realidade.

A vida acontece-nos mesmo quando não nos acontece, quando temos grandes períodos de resiliência ou de extrema apatia, de doença ou de rebeldia, a ponto de não querer ouvir o som de uma tecla, de um teclado, de uma música, de um toque ou de uma simples notificação. A vida acontece-nos na quietude do silêncio do campo e no burilar do quotidiano da cidade.

Incertezas temos se a vida é cíclica e, não obstante a tão verbalizada frase «depois da tempestade vem a bonança», se esta será mesmo assim e se, após períodos de grande aprendizagem, desgaste ou resiliência, outros períodos de grande reverência nos esperam neste caminhar para a nossa luz conseguirmos fazer brilhar e ao mundo mostrar.

A vida acontece-nos na luz e na sombra, no amor e no desamor, na entrega e na desistência, no investimento e no desprezo, no alento e no desalento, no dar e no receber, no saber estar e saber retirar, no merecer e no desconsiderar, no apreciar e no depreciar, no querer e não querer, no preferir e no preterir, no sentir e no deixar de sentir.

A vida acontece-nos na lentidão e na erupção, nos dias de sol e de chuva, nos dias de luar e de profunda escuridão, nas pausas e no supremo movimento, na serenidade e no autêntico rejubilar de espontaneidade.

A vida acontece-nos nos períodos de mergulho profundo na nossa integridade e nos períodos de profundo rasgo da intimidade.

A vida acontece-nos no calado e no diálogo, a solo ou em grupo, em harmonia e desarmonia, na agressividade e na diplomacia.

A vida acontece-nos nos períodos de nascimento e de renascimento, nos períodos de maior ou menos empoderamento, no obscurecido e no brilho, no trilho ou fora dele. A vida acontece-nos com bússola, gps, nas colinas ou nas montanhas, nas lagoas ou nas falésias, nas quintas ou nos jardins, nas praias ou nas lagoas, ou simplesmente nas surpresas arrepiantes num caminho jamais antes percorrido e mais além.

A vida acontece-nos na nudez e nas mais variadas vestes, dos mais variados tons, texturas, formas e tamanhos. A vida não tem tamanho, nem medida, nem matriz. Mas tem cheiro, sabor, melodia e cor. Muita cor, e a minha seria fúchsia ou púrpura. Pinto a vida de rosa para ser mais vistosa. Pinto o coração de amor para ser mais galanteador. Pinto a alma de branco para ter mais encanto.

A vida desarma-nos, mas também nos estrutura. Valida-nos e devolve-nos à vida. Às vezes, embrulha-nos, enlaça-nos, mas também deslaça, adorna-nos de novo e devolve-nos à vida.

A vida acontece-nos de mãos dadas e de mãos desligadas, desgarradas, dececionadas, desabrigadas e desamparadas.

A vida acontece-nos tantas vezes quanto o permitirmos.

A vida espera de nós e nós esperamos da vida. As vidas são antónimos. É neste binómio de um misto de esperança e de incerteza que o nosso caminho é trilhado, em passos árduos ou trabalhosos, ou em passos leves e fluídos. Dualidades permeadas de várias realidades.

A vida acontece-nos numa dança entre a desistência e a coragem, o amparo e o desamparo, o fracasso e a ousadia, a impotência e a audácia, a tristeza e a alegria.

Em tempos, estava muito enraizado que desistir era para os fracos. Será? Obviamente que podemos encarar a palavra desistir de diversas formas: mudar de rumo, de direção, de país, de profissão, de relação. Deixar de estar, de frequentar, de ir e até de sentir, consciente ou inconscientemente.

Desistir não significa, necessariamente, um fracasso, mas uma aceitação de uma situação que já foi boa e prazerosa, mas que, com a dinâmica da vida e do ser humano, por várias razões, deixou de o ser.

Quando já não há mais nada a lutar, naquele lugar insistir em ficar, só vai desgastar e impedir a felicidade alcançar.

Fracassar é ficar por comodismo, por conveniência, por mendigar aceitação e amor, por valores já não alinhados, por temor a julgamento e não por respeito ao sentimento.

Quando já não cabemos no lugar, pelo tamanho do vazio instalado, é preferível outro lugar procurar, seja este para ficar, para conversar, para trabalhar, para viver ou para amar.

Vivências sem alma não realizam, não permitem fluir nem prosperar um coração de quem tanto se quer permitir vivenciar.

A vida acontece-nos entre a capacidade que temos para fazer acontecer e a medida que o universo tem para nos prover.

A vida acontece-nos.

A vida acontece-nos até quando não nos acontece.

A vida acontece-nos!

About the Author: Sónia Rosa
Sónia Rosa
Curiosa pela área do desenvolvimento pessoal, pela mística das personalidades e pelos relacionamentos interpessoais. Natural das Caldas da Rainha. Estudou Gestão de Recursos Humanos e desenvolveu funções na área da formação Profissional, Coordenadora, Mediadora e Formadora. De momento emprega as suas competências como Técnica de Transição Digital num projeto no seio empresarial. A escrita é um bálsamo para a alma e uma forma de interiorizar ou exteriorizar emoções. Gosta de poesia e os amigos dizem que é uma romântica.

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