Inês Biu Faro

por Inês Biu Faro

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Já foram muitas as vezes em que me senti aprisionada em mim mesma, como se estivesse presa com grilhões dos quais não conseguiria libertar-me facilmente.

Foram tantas as vezes quantas as situações — mais ainda do que aquelas de que tenho ideia. Porque, quando somos mais novas, não temos a consciência preparada para reconhecer tudo aquilo que nos ensinam e os caminhos que nos dizem para seguirmos, sem que nos deixem descobri-los por nós mesmas.

Fui criada com muitos rótulos, pré-conceitos e ideias que, actualmente, já não me cabem. Fazem-me sentir apertada e presa. Tenho trabalhado em mim mesma e na minha força, precisamente, para me libertar, para sentir a tão amada brisa que vem ao meu encontro de cada vez que cai mais um grilhão.

Sinto-me livre quando me descubro, quando deito por terra tudo aquilo que achava que era e olho para a verdadeira Inês, sem medos nem inseguranças.

Também é verdade que já me senti presa em relacionamentos, quer de amor, quer de amizade. Já me senti presa ao sentimento «fazer tudo o que o outro quer, para que me dê atenção». Senti-me presa à valorização dos outros, à importância que teria para os outros. Em suma, durante muito tempo, senti-me presa ao que os outros achavam e pensavam de mim, negligenciando o que eu mesma acho e penso sobre mim.

Toda esta busca por valorização e notoriedade passou para as redes sociais: a constante busca por «gostos», «comentários» e «partilhas», sem sequer pensar que o mais importante era – e é – sair da zona de conforto e simplesmente publicar algo! Um texto, um vídeo a cantar, uma fotografia desmaquilhada… Nunca tive problemas em publicar vídeos brincalhões, com um filtro que modificava os meus olhos com uns óculos enormes e a minha voz parecia a de uma criança. Porquê ter vergonha de publicar algo completamente genuíno? É… as redes sociais também mexem com a auto-estima, com as inseguranças, e esta busca por aprovação externa pode tornar-se perigosamente viciante e tóxica. Até ao momento em que, com a ajuda profissional certa, percebi que a maior e mais necessária aprovação é a própria. Porque é que hei de confiar numa aprovação externa que só vê uma parte daquilo que eu sou? Que só vê o que aparece e não o todo? Porque é que devo confiar em alguém que está meramente de passagem?

E, então, caiu mais um grilhão. Caiu mais um bocado da casca do casulo onde comecei, desde pequena, a esconder-me. Aos poucos, perco medos e inseguranças. Já penso nestas redes como uma partilha daquilo de que sou feita, daquilo que é de mim e do que gosto em mim e no que me rodeia. Faço partilhas quando me faz sentido. Partilho aquilo que quero, sem pensar no que vão pensar de mim, se estou bonita, se cantei bem, se o que escrevo lhes toca o coração.

Libertei-me dessa aprovação externa, a partir do momento em que comecei a fazer as pazes com os espelhos, com o acne que ainda ocupa o meu rosto – obrigada, chocolate! –, com as roupas da moda ou não, a ausência de maquilhagem ou o meu risco preto comprido. Aos poucos, vou fazendo as pazes comigo mesma, e não há melhor sensação de liberdade do que esta: saber e sentir que «eu sou feita disto e não preciso que tu gostes, porque eu gosto!».

É por isso que me é tão importante sentir a queda de cada um destes grilhões, de me libertar de uma Inês que não é a verdadeira — ou, pelo menos, não o é consigo mesma. É-me importante libertar-me de mim mesma, dar conta de quando largo mais uma dose deste casulo rude que me habituei a usar e aprendi a tirar aos poucos, para poder ver a borboleta linda que sou.

Confio que, um dia, verei as minhas asas tão lindas, cor-de-rosa e cheias de pedrinhas da Pandora, como os meus mais próximos as vêem. Perderei, cada vez mais, o medo dos espelhos, dos reflexos. Falar sobre mim não me levará às lágrimas (a menos que seja de orgulho) e, mais do que isso, não me importarei com nada, nem ninguém, sem, primeiro, me importar comigo.

A liberdade para ser eu mesma é algo que, para mim, é inegociável, impossível de não viver e, cada vez mais, maravilhoso de descobrir e sentir.

About the Author: Inês Biu Faro
Inês Biu Faro
Ainda não conhecia o abecedário quando começou a "escrever". Enchia cadernos com linhas "escritas" à sua maneira, com todos os seus contos de fadas e sonhos. Ao longo da escolaridade, aprimorou o gosto pela escrita e desde que se lembra que escreve diários. Não é fácil ser várias mulheres numa única e só os diários a compreendem, por falar consigo mesma. Escreveu, escreve e escreverá sempre com o coração, com emoção, de uma mulher para tantas outras, de um coração para tantos outros. Tem um manuscrito por editar. Será desta que sairá do forno? Esperemos que sim!

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