Inês Biu Faro

por Inês Biu Faro

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Ainda há uns dias li a crónica de uma amiga de escrita, onde dizia que é uma rainha, por criar um reino só seu onde a sua imaginação voa, revoa e governa a sua escrita a seu bel-prazer.

Rapidamente me lembrei do meu País das Maravilhas. Há já muito tempo que não escrevia sobre ele, o que existe por lá, se o tenho visitado, ou, sequer, se tenho pensado nele.

Na verdade, as minhas visitas ao meu País das Maravilhas têm sido menos frequentes. Não implica que sonhe menos, mas tenho sentido menor necessidade de fugir ou de me refugiar. Tenho aprendido a lidar melhor com os meus medos e inseguranças, sem ter de recorrer à luta constante para dar luz e sol à minha Floresta Negra das Gomas. E tenho aprendido a olhar para este meu País das Maravilhas com olhos de mulher adulta que se permite sonhar todos os dias, o dia inteiro, e quer, cada vez mais, abraçar a menina que habita em si.

Então, sobre este meu reino e reinado, contei assim às minhas amigas escritoras:

Criei um reino só meu, o meu País das Maravilhas, onde há o Palácio do Pai e o Palácio da Mãe, tenho um Pomar Florido onde passeio; onde me sento a ler nos bancos de pedra e respiro o aroma a fruta, passeio pelos Labirintos de Amor; onde os príncipes, arlequins e pierrots se perdem ao tentarem conquistar-me. Tenho, também, uma Floresta Negra das Gomas, rica em alcaçuz e gomas ácidas (as que não consigo comer por nada!), mas que tem um tamanho cada vez mais pequeno. Consigo dominar os meus medos e transformar as gomas ácidas em gomas coloridas e saborosas de comer, de cada vez que lá vou buscar força para enfrentar mais um medo, mais uma insegurança.

Eu moro no Palácio da Mãe, embora saltite entre espaços. Tenho um Salão de Baile onde todos se divertem comigo. Tenho uma Plateia (o meu coração) onde tenho todos aqueles que aqui fazem morada, ou que deixaram um lugar especial. E tenho a minha Torre Alta, tal qual como a Rapunzel, mas eu não atiro os meus cabelos. A torre é só minha. Tenho um puff gigante e fofo ao centro e, em toda a volta, há portas, Mil e Uma portas, que compõem o meu Sótão.

Cada uma com um nome, algumas com ranhuras para receber e enviar cartas, outras com grilhões e avisos de «perigo! Não abrir!», outras sem nada, de luzes apagadas e tudo, só mesmo com um nome que só não cai no esquecimento porque tenho boa memória, mas que, ao abri-la, ao invés de um jardim, encontro prateleiras empoeiradas, como se de uma velha despensa se tratasse. Ao lado de cada porta, há Caixas de Ternura e Baús de Memórias, onde guardo, com todo o meu carinho, tudo o que me marcou na pessoa que tem ali o seu nome.

Em cada porta há uma história e, assim que a abro, sou levada para outra parte de um reino que não é só meu, mas, sim, aquele que criei com cada um dos meus amores vividos, também os amores que ficaram por viver, os amigos e família que já não estão, momentos que guardo com toda a minha saudade e que, quando mais preciso, revisito para reaprender uma determinada lição de vida ou procurar conselhos dentro de mim mesma.

Criei um reino muito semelhante aos das Princesas da Disney, mas moldado e talhado por mim, ao longo dos anos. Fujo para lá quando me dói mais. Fujo do mundo real quando este me pesa. Fujo para lá quando preciso de conversar comigo mesma, equilibrar razão e emoção. Fujo para lá quando preciso de me encontrar, quando preciso de mim.

Criei este reino para que, quando precisasse de falar sobre mágoas, dores, suspiros e amores, não custasse tanto; para que as conversas comigo mesma não pesassem tanto e para que os sonhos fossem sempre maiores do que tudo; para que a imaginação nunca se desvanecesse, apesar dos medos; para que as coisas boas e o colorido da vida não saíssem dos meus pensamentos e da minha vida, quando mais preciso de os ter comigo.

Eu tenho um Reino, que, tal como eu, Rainha Inês Barbie Primavera Biu Faro, é lindo, colorido, cheiroso, cheio de vida e emoções.

About the Author: Inês Biu Faro
Inês Biu Faro
Ainda não conhecia o abecedário quando começou a "escrever". Enchia cadernos com linhas "escritas" à sua maneira, com todos os seus contos de fadas e sonhos. Ao longo da escolaridade, aprimorou o gosto pela escrita e desde que se lembra que escreve diários. Não é fácil ser várias mulheres numa única e só os diários a compreendem, por falar consigo mesma. Escreveu, escreve e escreverá sempre com o coração, com emoção, de uma mulher para tantas outras, de um coração para tantos outros. Tem um manuscrito por editar. Será desta que sairá do forno? Esperemos que sim!

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