Daniela Rodrigues

por Daniela Rodrigues

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Fui desafiada a escrever sobre música.

Acho que procurava uma que despertasse aquela inspiração de que necessitava.

Mas o destino, ou o acaso (como quiserem acreditar), fez das suas e, no meio de uma playlist aleatória, pôs a tocar aquela música que surgiu na minha vida, há meses, e me arranca todo o tipo de memórias, sentimentos e lágrimas – provavelmente, de saudade.

Decidi escrever sobre ela. Não sobre a música, mas sobre a pessoa a quem a atribuí na primeira vez que a ouvi: uma amiga antiga – a minha pequena Mariana. Curiosamente, na altura que esta música me surgiu, estava a ler um livro em que a protagonista tinha o mesmo nome e, desde aí, tem estado bem mais presente. A vida e o destino têm motivos e caminhos surpreendentes. E eu gosto tanto disto!

Mas, hoje, estou aqui para escrever sobre essa música e sobre a Mariana. Mesmo que já não sejamos parte da vida uma da outra, sinto que preciso de o fazer. Talvez para recordar, ou só para afogar a saudade, e voltar a fechar a gaveta das memórias em que ela está.

«Vi uma amiga de infância, que perdi com a distância…»

Não era desde a infância, mas foi num tempo acertado e durante alguns anos. Perdemo-nos: por sermos diferentes; por não nos entendermos num determinado assunto; por estarmos em momentos da vida diferentes; por termos escolhido caminhos distintos e por estarmos distantes, fisicamente e, talvez, não só. Talvez não tenhamos sabido falar da forma certa ou talvez (me) tenha faltado o entendimento de alguma situação que não era a minha realidade.

«…nem sei o que é que faz agora, se inclusivé foi embora, que país, que planos…»

Não conhecemos mais a vida uma da outra. Quando o afastamento chegou, não veio de mansinho, mas perpetuou-se. Eu estava demasiado ocupada numa vida nova, onde não havia margem de tempo para quem estava do lado de fora, enquanto estávamos longe. Falha minha. Lamento.

«…se foi atrás do velho sonho, está melhor, eu já suponho…»

Espero que, entretanto, tenha conseguido concretizar o objetivo profissional dela: ser professora. Não chegamos a escrever o artigo sobre biblioterapia de que falámos, nem escrevemos nenhum livro juntas. Mas escrevemo-nos, algumas vezes, no tempo.

«…não sei se passo aquela parte, em que só queria relembrar-te…»

Das manhãs em que eu ficava à espera da sua Majestade, a Bela Adormecida; das tardes de passeio pela vila; das noites de festa em que te encobria; das estadias em Coimbra; do chão lilás na Quinta das Lágrimas; do concerto da banda “30 Seconds To Mars”; dos livros que partilhávamos; dos segredos e planos, objetivos e desejos, sonhos e devaneios…

«…ficou no meu quarto escondido, num papel escrito…»

Mariana, ainda tenho aquela tua carta, escrita com caneta cor-de-rosa, meio emoldurada, guardada. A tua ode ao meu “sei lá”, no meio de uma espécie de promessa de «para sempre», onde a minha típica resposta seria suficiente para saberes que estava lá. Lembras-te?

«…é bom que me contes tudo, como vai a vida…»

Talvez não agora. Uma versão resumida? O tempo urge.

«…e nisto o tempo não esperou, mas eu digo aonde eu vou. Eras a minha melhor amiga…»

Apesar do tempo e do passado, é a forma do significado que tinhas e ficou guardado, no mesmo sítio que as memórias de tudo o resto. A vida segue. E nós seguimos também.

«…eu vim p’ra te lembrar que, aonde quer que vá, vou ser daquele lugar e trouxe um cartaz, a dizer o teu nome, e mesmo estando longe, eu vim…»

Aquelas ruas e aqueles espaços serão nossos, em cada memória, mesmo que já não existam ou estejam irreconhecíveis. Nunca mais nos encontramos por lá, nas escassas vezes que passei. Vamos ser sempre parte de lá. As “pseudo-raposinhas”.

«… foi sem querer, mas vim…»

Mariana: a menina-mulher de cabelos claros, calada, mas com travessura q.b., portista (com o peluche do seu clube à janela do quarto), de (sor)riso característico (quase que o consigo ouvir).

«…Lembras-te de mim?…»

Será que ouvimos as mesmas músicas?

(Musica: Lembraste de mim – Nena e Carolina de Deus)

Agora, vou ali atacar os lenços de papel, que isto de escrever memórias e sentimentos, a ouvir em modo repeat a mesma música, faz sorrir e chorar.

About the Author: Daniela Rodrigues
Daniela Rodrigues
Nascida e criada no coração do Douro, entre o rio, as vinhas e as paisagens de tirar o fôlego, Daniela é apaixonada pelas palavras (e pelos violinos). Escreve desde que se lembra e transforma emoções em palavras, dando vida a histórias que aquecem o coração e envolvem quem a lê, num abraço terno, doce e, um tanto, encantado. Traz em si a imensidão dos sonhos; acredita no amor e nos finais felizes; carrega consigo a essência da saudade e todos os desejos que a fazem viver.

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