Ana Guilherme Martins

por Ana Guilherme Martins

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Quem é o tempo? Quem é este ser que não se padece das ansiedades alheias? Que consegue ser perseguido, ansiado e evitado no mesmo instante?

Indiferente às eras, ignora os caprichos de todos, quanto mais de cada um. O tempo passa ao seu ritmo. É dono do seu nariz.

Uns dizem que não passa. Outros, que voa. Outros, ainda, tomam-no por bálsamo, enquanto outros tantos, por vezes os mesmos, encaram-no como instrumento de dor. O tempo está-se nas tintas para a nossa opinião. Faz orelhas de mercador a todas essas músicas de longínquas vozes.

E mais! O tempo não se finge apenas surdo, como também persevera na sua mudez. Passa, simplesmente, sem se pronunciar em vocábulos. E continua a passar, fiel a si próprio, seja lá o que ele for.

Não obstante, é indubitavelmente expressivo. Não se enganem! As marcas que deixa, todas elas profundas, constituem provas indeléveis de que por aqui passou. As leves não subsistem. Essas são isso mesmo: leves. Desvanecem com um pouco dele.

Sem princípio, nem fim, ao tempo basta-lhe simplesmente passar. Veste-se de subtil e concreto, mas sempre de passagem. Manifesta-se em amarguras doces ou ácidas e, de quando em quando, insípido até!

Percebo claramente que já me iludi tanto ao querer abreviá-lo, odiá-lo, enganá-lo. Independente, o tempo passa.

Descobri que o tempo segue sempre em frente, mas não passa de um eterno teimoso. O ritmo é o seu ritmo, não o de outrem. E eu gosto que assim seja, pois resigno-me por nunca ter conseguido atribuir-lhe uma velocidade certa a não ser a dele próprio. Se o tempo estivesse à minha espera…

Realista, resiliente e risonha, resta-me continuar a aprender a vivê-lo assim, como é. De proveito consciente, por mim, o tempo pode passar, tal é o seu próprio ritmo.

About the Author: Ana Guilherme Martins
Ana Guilherme Martins
Cresceu entre Portugal e França. Quanto mais lê, mais vontade tem de escrever. Vê-la feliz sempre foi tarefa simples: bastava um papel e uma caneta. Frequentou o curso de Línguas e Literaturas Modernas, mas foi na produção técnica televisiva que trabalhou quase toda a vida. Com a ternura dos 40, uma reflexão profunda levou-a a mudar de rumo e a seguir a sua paixão. Hoje é professora de línguas e autora de «Julieta, a Borboleta de Jaqueta» e «Um dia vais perceber».

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