por Nina da Silva

Penso, logo desisto — deveria ser o meu atual mote de vida. Diria que, neste momento, já me está tatuado na alma, tal é o panorama. Toda a ideia, que me passa pela cabeça, traz associada uma lista enorme de contras e outra, bem mais curta, de prós. Penso e, logo, o sistema central, vulgo subconsciente, dispara a lista e começa a correr os pontos, como se tivesse um ecrã à frente dos olhos.
«E se corre mal? E o dinheiro que vais gastar? E o tempo onde vais arranjar? E como vais conciliar tudo? Não insistas. Se fosse para ser, já tinha sido! É com esta idade que te vais meter nisso? E se dá para o torto? Nunca estás bem. Olha à tua volta: há quem esteja bem pior! Para de inventar! Tem, mas é juízo!» É o discurso de autossabotagem que ouço, em loop, na minha cabeça.
Mas… E se esse discurso, em vez de me travar, estiver, de facto, a salvar-me de uma realidade pior? E se, em vez de sabotagem, for livramento? Atingi o cúmulo de duvidar das minhas próprias dúvidas e continuo sem chegar a conclusão nenhuma.
Se a minha voz interior tem razão, ou se sou eu que quero arranjar desculpas para não mudar, não faço a mínima ideia. O que eu sei é que já não tenho paciência para me ouvir. Os meus pensamentos não apoiam as minhas ideias, não me apoiam em nada. Há sempre um “mas”. Então, para quê pensar? Não será melhor adaptar o mote: aceita, que dói menos?
Tudo me cansa. Pensar, sonhar, planear. Por isso, fico-me pelo pensar, e isto só porque ainda não sei como me impedir de o fazer.