por Inês Biu Faro

Desde a infância que somos habituadas a brincar com bonecas, aos pais e às mães, aos cuidadores. E, a acompanhar o nosso crescimento, chega a Sociedade, que nos grita constantemente: «És mulher! Tens que ter filhos». De maneira mais ou menos dura, a imposição acaba sempre por chegar: o «legado da família, do nome da família». E quem está de fora nunca se questiona se a mulher quer ter filhos, se pode ter filhos, se vai gostar de ser mãe, se quer ter na sua vida todas as mudanças que ter um filho implica. Infelizmente, a voz da própria mulher continua a ser a última a ser ouvida e, por mais moderna que a Sociedade se vá tornando, continua muito atrasada.
Ser mãe sempre foi um grande sonho meu, não por causa de factores externos, imposições ou pressões, mas por todo o amor que transborda em mim, pela sensação incrível que deve ser sentir um bebé dentro de mim, a ser alimentado por mim e a desenvolver-se comigo, a cada dia. Ainda assim, o tempo passa e – como já vos contei noutra crónica – há já uns anos que fiz as pazes com este sonho. Aceitei que, se tiver que acontecer, serei muito feliz; se não acontecer, canalizarei todo este meu amor para os meus sobrinhos emprestados. Por mais opções que haja para ser mãe solteira, não quero fazê-lo. Tampouco não ter o pai ao meu lado. Ter pais separados não é nada fácil e não quero passar essa dificuldade para um filho.
Desde que me lembro que tenho um grande instinto maternal, como se tivesse nascido para ser mãe, tia, educadora, professora, cuidadora. E já não sei quando é que nasceu a Tia Barbie, mas sei que, desde cedo, dou muito amor às crianças que me são mais próximas, sobretudo aos filhos das minhas amigas. A Tia Barbie aumentou a sua rede de sobrinhos quando começou a ser babysitter de princesas ou de coros infantis, quando começou a cantar num destes coros, percebendo que poderia criar a sua família musical e que, muitas vezes, as crianças com quem se cruzava a procuravam de livre vontade.
Sou, orgulhosamente, a Tia Barbie que socorre as mães quando precisam de descansar um pouco, que acompanha o crescimento dos sobrinhos e diz sempre: «Estou à distância de uma mensagem e de um abraço. Se não quiseres falar com os teus pais, conta comigo!». Sou a tia que compreende, que com carinho apela à razão e ao coração para ajudar a formar jovens com mais consciência e maturidade. Sou aquela tia que, além de perguntar pelos sobrinhos, também pergunta pelas mães — como estão as minhas amigas — e lembro-as de que, antes de serem esposas e mães, são mulheres, e que precisam de manter essa força e beleza única que só o sexo feminino tem.
Sou a Tia Barbie que tanto se veste toda de cor-de-rosa e brinca às princesas, como se veste de preto para cantar; que procura aprender um novo jogo, uma nova actividade para mimar os seus meninos, até mesmo aqueles que só vê uma vez na vida, e se predispõe a vestir-se de boneca — mascote mesmo! — para que uma visita de estudo possa ser ainda mais interessante e divertida.
Para alguns sobrinhos, sou, também, a Tia da Música, que lhes conta as peripécias deste mundo e lhes mostra que a ópera não é um bicho e a música clássica é maravilhosa. Sou a tia que lhes acalma os nervos, que se acalma com os seus abraços e lhes pede que cantem com o coração, que sejam empáticos e compreensivos, que façam tudo com o coração.
Já, por várias vezes, dei por mim a abraçar sobrinhos e a desejar ter os meus filhos. Já sonhei com filhos, inclusivamente com os seus nomes, e já apanhei sustos com menstruações atrasadas. E não me dói, não me custa. Por mais que pense que seria ainda mais feliz e realizada sendo mãe, acredito e sinto que sou mesmo muito feliz sendo tia. Sendo “a” tia que eles procuram, a tia dos abraços e das maluquices, a tia dos conselhos e que seca as lágrimas. A tia que adoça os seus mundos com o seu amor.
Sou a tia com o maior colo do mundo, e é por isto que também me sinto um pouco mãe!