Fazer o que se gosta tornou-se uma luta

Já não escrevo há algum tempo. O que era hábito há uns anos, hoje, já não o é.

Sinto-me enferrujada em tudo o que à criatividade diz respeito. A rotina do dia a dia não ajuda. Estamos programados para fazer sempre a mesma coisa e o cérebro, como consequência, atrofia. A mente emperra, entorpece. Quando queremos que saia fora do guião a que está habituada, não nos obedece. Parece que, lá dentro, temos os fios do pensamento cheios de nós que não conseguimos desatar. E, muitas vezes, acabamos por desistir porque estamos fartos de que tudo na vida dê muito trabalho. Deste, já temos de sobra.

Fazer até o que se gosta tornou-se uma luta. Porque é preciso forçar não só a mente, mas o tempo. Porque, quando temos a sorte de conseguir parar para fazer aquilo de que gostamos, quando finalmente começa o pensamento a fluir, logo temos que largar, porque há coisas “mais importantes” para fazer. Porque o hobby não paga as contas e a casa não se cuida sozinha. Porque há quem precise de nós e, no fim das contas, o tempo não sobra. Nem a pachorra.

Tantas vezes, sai da minha boca que queria tanto ter tempo para fazer uma coisa por gosto, mas são sempre as obrigações que vêm primeiro. Deve ser por isto que chegamos ao fim da vida com a sensação de que não vivemos. Apenas sobrevivemos. Às vezes, já nem raspando o fundo do tacho consigo encontrar inspiração.

Quando, nos dias de hoje, basta dar ordens a uma máquina para obter um texto, editar um livro ou produzir um guião; quando o esforço e o sentimento de um indivíduo estão a ser substituídos por um qualquer programa artificial que se diz inteligente, pergunto-me se vale a pena sequer continuar.

Para já, estou por cá.