Nina da Silva

por Nina da Silva

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Quando somos crianças, olhamos para os nossos pais como se estes fossem super-heróis. É neles que encontramos aconchego e proteção. São as mãos que nos amparam e que nos guiam pelos primeiros quilómetros da nossa vida. Aos nossos pequenos e inocentes olhos, os nossos pais são sábios e corajosos, fortes e incansáveis. Enfrentam tudo e todos por nós. Talvez, por isto, assumimos que todo o adulto é assim ou deveria ser assim. Que ganharíamos essas caraterísticas à medida que fossemos crescendo e, quando chegássemos à idade deles, deduzimos, tal como eles, seríamos super-heróis e capazes de tudo resolver e enfrentar. Logo, é um balde de água fria, gelada mesmo, quando percebemos que não é bem assim.

A idade adulta traz tudo menos superpoderes. Traz muita coisa em modo “super”, mas não o que se esperava. Afinal, as listas só aumentaram de tamanho. A dos medos e a das inseguranças. A das dúvidas e a das dívidas. A dos deveres e das preocupações. A das decisões e a das consequências. O bullying não desaparece quando se sai da escola — a competitividade muito menos. Muitos adultos são mais imaturos que crianças. As amizades não surgem espontaneamente e é mais difícil confiar no outro. Reprimimos o nosso coração e vivemos segundo as diretrizes que nos foram incutidas.

O adulto tem muito mais incertezas e receios, mas não os deve demonstrar, porque é adulto e não fica bem. O adulto continua a precisar de um super-herói, mas já sabe que eles não existem. Falta-lhes o colo, o refúgio e a proteção. Já não vê os seus pais com os mesmos olhos de criança, porque, hoje, sabe o que eles já sabiam na altura. Porque, agora, se calhar, precisam mais dos filhos do que nunca e estes evitam sobrecarregá-los com as suas aflições. Porque, se calhar, esse adulto também tem filhos e tem que vestir a capa de super-herói para eles. E, assim, o adulto vê-se entalado entre a espada e a parede, sem saber bem como se defender.

É por tudo isto que temos saudades de ser criança. A ingenuidade da nossa infância era realmente uma bênção. Éramos livres e acreditávamos que tudo era possível, inclusive que heróis de faz de conta podiam ser realmente de verdade e que nós seríamos um deles.

 

About the Author: Nina da Silva
Nina da Silva
Por pragmatismo, seguiu os números. Por paixão, teria seguido as palavras. Nascida nos primeiros anos da década de 80, traz consigo as dúvidas e os dilemas de quem se encontra a meio caminho. De onde? É o que ainda está por descobrir.

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  1. Maria Reis 24 Novembro 2023 at 18:34

    Excelente ! Muito verdadeiro

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