Nina da Silva

por Nina da Silva

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Querido Pai Natal, tenho uma queixa a fazer: roubaram-me o Natal.

Um dia destes, andava eu por um centro comercial no dia de chegada do Pai Natal. Nem eram dez da manhã e já estava cheio de famílias a passear. Pais, e mesmos avós, acompanhavam os pequenotes que aguardavam, felizes e ansiosos, a chegada do velhote de barbas brancas.

Apesar da origem religiosa, o Natal mexe com muitos de nós, independentemente das nossas crenças, nem que seja apenas pelo ambiente festivo, pela partilha e pelos convívios entre amigos, colegas e familiares. Ou, então, pelas luzes que se desenham nas ruas e pelas decorações que encantam corações. Ou porque, durante alguns dias, enchemos os nossos olhos de cor e a alma de alegria, mesmo que seja a dos outros.

Admito que sempre foi toda esta envolvência que me encantou no Natal. Até a música, que tantos consideram irritante, é para mim um bálsamo. Mas, para usufruir destes dias natalícios, é preciso tempo e calma e, com a correria do nosso dia a dia, apercebi-me de que deixei de o fazer. Passou a ser uma época de stress, de cumprimento de obrigações e compromissos e, com tudo isto, perdi o que o Natal tinha de melhor para mim.

Ter tempo para desfrutar da preparação, da decoração e da caça às prendas certas. Ir aos mercados para provar e comprar as iguarias da época. Parar na rua, sentir o ambiente que fervilha à nossa volta e apreciar o que se desenrola perante os nossos olhos. Agora, o Natal passou a ser uma check list que se pica a cada tarefa concluída. Tarefas muitas vezes feitas a correr e em autómato, sem sequer pensar. E, quando damos por nós, já passou e nem demos por isso.

Estamos a dez* dias do Natal e não fiz nada no que às decorações diz respeito, nem tenho vontade de o fazer. Para mim, a piada está em fazer o mais tardar a 1 de dezembro para poder usufruir. Agora, já não faz sentido. Faltam-me metade das prendas para comprar, mas também já há muita coisa que não consigo encontrar. A azáfama das ruas e das lojas, hoje, incomodam-me. Só me apetece refugiar-me num sítio qualquer até o Natal acabar. Até no meu trabalho anda tudo doido por estes dias. Parece que o mundo acaba amanhã.

Se já não posso viver o meu Natal, então, que passe depressa.

Quero ser criança outra vez e acreditar na magia do Natal. Voltar a vivê-lo e vê-lo através dos seus olhos inocentes, e sem o peso que hoje sinto nos ombros.

 

*Escrito a 14 de dezembro

About the Author: Nina da Silva
Nina da Silva
Por pragmatismo, seguiu os números. Por paixão, teria seguido as palavras. Nascida nos primeiros anos da década de 80, traz consigo as dúvidas e os dilemas de quem se encontra a meio caminho. De onde? É o que ainda está por descobrir.

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