Sónia Brandão

por Sónia Brandão

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Os assuntos inacabados voltam, dizem.

E, na verdade, este nunca acabou. Talvez por isso, volte — sempre.

Voltam sempre que existe a oportunidade para tal.

Tu voltas.

Quase se trata de uma dança.

Ora caminhamos em mundos separados, sem nada saber um do outro, ora entramos na vida um do outro com a força de uma bomba.

Da minha parte, nunca sei onde e quando vai acontecer. Só tenho sempre a sensação de que vai.

E acontece.

Vinda do nada, uma mensagem querida, com perguntas carinhosas, que levam a mais mensagens; que se transformam em chamadas longas, em horários impróprios; que se tornam videochamadas, e que, inevitavelmente, fazem recordar e querer estar juntos.

É sempre a mesma dança.

Quer seja eu a convidar, ou tu.

O resultado é sempre o mesmo: um novo reencontro.

Por mais que pareça inofensivo, o depois não o é.

É difícil o regresso à vida normal, sem a tua presença.

É conhecer o que poderia ser, sabendo que provavelmente nunca o será.

Porque, na nossa dança, acabamos sempre a dançar sozinhos. Acabamos sempre perdidos nas memórias do que vivemos, mas ambos sós.

É difícil explicar o «porquê». Talvez porque não exista essa resposta.

Talvez porque ambos nos limitamos a viver e a voltar onde nos sentimos seguros, mesmo sabendo que se trata de uma parte demasiado escondida.

Nenhum de nós espera mais do que o que temos.

Danças que duram mais ou menos tempo, mas que nos fazem felizes, mesmo sabendo que nunca serão mais do que isso.

Continuaremos a dançar, no futuro?

Não sei.

Mas, por agora, danço contigo mais uma vez, para preencher o vazio que deixas de cada vez que partes.

Dançarei agora. No futuro, veremos se continuarei a necessitar da tua presença para sorrir mais um dia.

About the Author: Sónia Brandão
Sónia Brandão
Apaixonada por palavras, aprendeu, desde nova, a criar realidades paralelas na sua mente — onde tudo era possível. "Amor de Perdição" foi o primeiro livro que leu. Tinha 13 anos e foi a mãe que lho sugeriu para se ocupar. Desde então, nunca mais parou de ler. Durante alguns anos, no entanto, parou de escrever: sentiu que tinha deixado de fazer sentido. Mas o confinamento fê-la regressar à escrita com mais força e determinação. Este ano, surgiu a vontade de partilhar com os outros o que coloca no papel.

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