por Sónia Brandão

Os assuntos inacabados voltam, dizem.
E, na verdade, este nunca acabou. Talvez por isso, volte — sempre.
Voltam sempre que existe a oportunidade para tal.
Tu voltas.
Quase se trata de uma dança.
Ora caminhamos em mundos separados, sem nada saber um do outro, ora entramos na vida um do outro com a força de uma bomba.
Da minha parte, nunca sei onde e quando vai acontecer. Só tenho sempre a sensação de que vai.
E acontece.
Vinda do nada, uma mensagem querida, com perguntas carinhosas, que levam a mais mensagens; que se transformam em chamadas longas, em horários impróprios; que se tornam videochamadas, e que, inevitavelmente, fazem recordar e querer estar juntos.
É sempre a mesma dança.
Quer seja eu a convidar, ou tu.
O resultado é sempre o mesmo: um novo reencontro.
Por mais que pareça inofensivo, o depois não o é.
É difícil o regresso à vida normal, sem a tua presença.
É conhecer o que poderia ser, sabendo que provavelmente nunca o será.
Porque, na nossa dança, acabamos sempre a dançar sozinhos. Acabamos sempre perdidos nas memórias do que vivemos, mas ambos sós.
É difícil explicar o «porquê». Talvez porque não exista essa resposta.
Talvez porque ambos nos limitamos a viver e a voltar onde nos sentimos seguros, mesmo sabendo que se trata de uma parte demasiado escondida.
Nenhum de nós espera mais do que o que temos.
Danças que duram mais ou menos tempo, mas que nos fazem felizes, mesmo sabendo que nunca serão mais do que isso.
Continuaremos a dançar, no futuro?
Não sei.
Mas, por agora, danço contigo mais uma vez, para preencher o vazio que deixas de cada vez que partes.
Dançarei agora. No futuro, veremos se continuarei a necessitar da tua presença para sorrir mais um dia.