por Marta Almeida

À procura de um documento numa caixa cheia de papéis, encontro desenhos e fotos antigas dos meus filhos. O meu coração aperta. Que saudades desses tempos de inocência, de pegá-los ao colo, dos cheiros, dos abraços apertados, beijinhos e histórias para adormecer. De adormecer também eu, de mão dada, no seu quarto.
Ouvi, muitas vezes, a frase «aproveita bem que o tempo passa a correr». Eu tentei. Cada segundo. Mas ele passou a correr à mesma. Não o consegui parar! Tive tanta vontade, tantas vezes… Quando o Francisco, em bebé, adormecia no meu peito e eu aproveitava a boleia para adormecer também. Quando a Mafalda me abraçava com os seus abraços doces que me enchiam de amor.
Olhando, agora, para trás, sei o caminho feito que me fez chegar até aqui. Conheço cada passo. Mãe de dois adolescentes cheios de valores e dos quais me orgulho tanto. E também é bom vê-los ganhar asas e voar. Existe um rasgar e um afastamento típico destas idades que, não posso mentir, dói! Mas faz parte. Seria pior se não existisse. Cada idade tem o seu valor e as suas formas. E é importante que a vivam plenamente. É também uma forma de olhar para mim mesma, ver a minha evolução e continuar a ser a Marta, completa, para além de mãe. Reencontrar-me comigo. Porque já era eu antes de eles nascerem e continuarei a ser, mesmo quando não precisam de mim sempre presente. É importante sermos família. É importante também sermos singular.
Ser mãe é, sem dúvida, a minha melhor aventura. O dia mais feliz da minha vida foi quando estive com os dois juntos pela primeira vez. No dia do nascimento da Mafalda, quando o Francisco se juntou a nós, não contive as lágrimas. Senti que o amor era tão grande que transbordava do meu corpo. Não cabia em mim. Era demasiado pequena para tanto. Um sentimento tão forte que ainda me comovo sempre que volto a esta recordação.
Tem sido um curso completo de gestão emocional. Eles ensinam-me todos os dias sobre mim, enquanto descobrem quem são. Em troca, eu ensinei-lhes um pouco sobre o mundo e muito sobre o amor. Não só dei o meu melhor, como me transformei numa melhor versão de mim mesma.
Lembro-me de ter o meu primeiro filho nos braços, talvez com um mês, e dar comigo a pensar: «tenho uma fonte de amor para sempre». Fui crescendo com eles. Fui vivendo cada etapa à sua medida. Com o que acreditava ser o certo para nós em cada momento. Confiante num instinto interno que nasceu (ou despertou) com a primeira gravidez. Falei-lhes sobre emoções, sobre autoestima, sobre a importância das palavras, sobre respeito, sobre sermos bons. Parei muitas vezes para respirar. Gritei (felizmente, poucas vezes) para descobrir como estava a ser incoerente ao gritar. Dei uma palmada na fralda, arrependi-me logo e dei outra de seguida. Também dei muito amor, abraços, tempo e compreensão. Apresentei teorias que os deixaram parados e admirados a olhar para mim, a absorver o meu mundo como esponjas. Tive cuidado ao perceber que nos viam como pais donos de uma verdade absoluta (o que já não acontece de todo nesta fase da adolescência); quis que desenvolvessem sentido crítico. Falei-lhes sobre todos sermos diferentes e especiais. Ouvi as suas opiniões. Apanhei grandes sustos, chorei — tanto de tristeza como de alegria —, pedi desculpa muitas vezes (mesmo lendo teorias, que não entendo, sobre pais não deverem pedir desculpa aos filhos) e rimos, rimos muito juntos.
E, agora, noutra etapa da vida, onde os esperam saltos maiores, acredito que têm as bases que os ligarão sempre a mim. E, mais importante, que os ligarão sempre a eles próprios. Mais perto ou mais longe, sei que sabem que estarei sempre aqui. Sei que eu sei que estarei sempre aqui. Como mãe. Sei que é cliché, mas também é verdade: terei sempre partes do meu coração a viver fora do meu corpo. E isso torna-me mais completa.