por Laura Almeida Azevedo
São os pequenos momentos que contam. Os que surgem de improviso, sem aviso, porque sim. Aqueles que não se regulam por regras, por tempos, e que não têm sequer tempo para andarem preocupados com o que os outros pensam.
São os que vivem nas pequenas coisas, apesar de parecerem tão grandes que, para lhes darmos um abraço, para lhes dizermos algo ao ouvido, temos de nos pôr em bicos dos pés. Por fazerem toda a diferença, tornam-se, apesar de pequenos, tão grandes.
São os pequenos momentos que nos definem. A nós e a quem faz parte da nossa vida. São aqueles dos quais não sentimos qualquer necessidade de nos esconder. Os pequenos momentos, por serem tão despretensiosos, são, na verdade, aqueles que nos têm por inteiro e de uma forma muito mais transparente. Por não pensarmos neles, deixamo-nos ir. E não nos apercebemos do quanto levamos de nós em cada ida.
São os pequenos momentos que contam e que ficam para sempre. São eles que vivem nas memórias de quem, depois de morrermos, nos relembra. Não temos controlo sobre eles, nem eles pretendem ter controlo sobre nós. São desprovidos. São os mais desajeitados, os mais matreiros e os mais encantadores.
São eles que nos fazem sentir que o passado é algo a que não devemos voltar, ou que é algo por que estaremos sempre dispostos a lutar. São eles que nos dizem, sem dizerem palavras algumas, que mais vale ir embora e seguir em frente, ou que ainda vale toda a pena ficar.
São os pequenos momentos que contam. Podem viver na sombra dos grandes e até podemos fingir que não têm tanta relevância. Mas é uma mentira doce que contamos a nós próprios — só para não sentirmos o peso até das nossas decisões mais pequenas.
E é essa não consciência que, de forma curiosa, tão genuinamente nos mostra.
Excerto do meu livro “apetece(s)-me”
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Excelente! Como concordo