Inês Biu Faro

por Inês Biu Faro

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Sempre fui exímia e constante no uso de máscaras para esconder as emoções; para dizer que está tudo bem, quando não está; para lidar com perdas ou alegrias que não quero demonstrar com demasiado entusiasmo, por medo de maus agoiros. Ou até para dizer que já passou, já superei, quando dentro de mim ainda dói e ainda pesa. Sempre para agradar os outros e não me validar, para me diminuir, para me desmerecer, dizendo a mim mesma que o meu bem-estar não é importante perante os outros. Chegando mesmo a preocupar-me mais com as máscaras dos outros do que com as minhas, ou com a minha verdade, que, sendo tantas, tenho é de somá-las para se transformarem numa única e eu deixar de saltitar entre máscaras.

Neste seguimento, guardo sempre as memórias. Lá está, alguém que é descrito por um escritor nunca morrerá, e eu escrevo sobre todos aqueles que me marcam. Tenho uma memória gigante para datas, sejam elas boas ou más. Em anos diferentes, vivo-as de maneiras diferentes e sinto, cada vez mais, a necessidade de tirar as máscaras, de deixar de faltar com a verdade para comigo mesma só para agradar os outros. Ser feliz vivendo uma boa memória. Ficar triste porque a memória é desagradável e tenho que a viver para a acalmar e para que deixe de pesar tanto.

Com as máscaras e com a facilidade com que as usamos, fica mais fácil ser empático para os outros do que para nós mesmos. Há uns dias, vi uma rapariga em prantos no metro. Quis abraçá-la e dizer-lhe que, mais cedo ou mais tarde, ficaria tudo bem, assim como, há um mês, estava eu em prantos no metro e uma moça me abordou, dizendo isso mesmo. Não lhe disse nada, mas, antes de sair do metro, dei-lhe um pacote de lenços e sorri. «Fica com eles. Vais precisar e eu tenho mais.» A rapariga ficou num misto de incredulidade com alegria pela compreensão. Não me senti uma heroína por ter correspondido com empatia. Senti-me humana. Senti que podia dar algo de bom a alguém que estava numa tormenta, fosse um sorriso ou apenas um lenço de papel.

Diz-se, cada vez mais, que ninguém sabe as tormentas que uns e outros carregam e que, por isso, é tão importante semear a empatia e a compreensão. O que não se diz é que não custa nada ter um gesto simpático ou, simplesmente, dar espaço. Muitas vezes é só disso que se trata: de dar espaço, sem julgamentos; sobretudo, entre amigos, família, companheiros, pessoas próximas! E quem precisa desse espaço, ou dessa proximidade, precisa de perder o medo de o pedir. Porque, felizmente, não lemos a mente uns dos outros e a comunicação é sempre o melhor caminho. Seja para o que for, é pela comunicação que as máscaras vão caindo.

Sendo eu uma exímia mascarada, mesmo tendo já quebrado algumas máscaras, ainda me agarro muito a algumas com o pensamento de que é «só mais um bocadinho», «eu já, já a largo» e, na maioria das vezes, não é mais um bocadinho… demora! Como se eu me esquecesse do sentimento de liberdade que me invade o peito, de cada vez que uma máscara me cai e me sinto mais Inês, mais verdadeira e próxima daquilo que tenho dentro de mim. Quanto mais me conheço, mais difícil se torna, quando o que mais quero é gritar ao mundo o que quero e não quero, o que gosto e não gosto, os meus certos e os meus errados. Que estou cansada — exausta mesmo! — de viver segundo as expectativas de toda a gente, menos as minhas. Tenho mais do que voz para viver por mim, para ser por mim, para me libertar e sair do Baile de Máscaras pelo meu próprio pé. Sou um Ser Humano único e sem comparação — aliás, brinco imenso dizendo que «tenho tudo, só não tenho comparação!» — e, por isso mesmo, devia acreditar, cada vez mais, no que apregoo e menos nos meus medos. Aliás, cortar mesmo os fios dos medos e das máscaras; dizer a mim mesma que, muito embora tenha sido muito bem educada, eu não sou nem a minha mãe, nem a minha avó. Somos gerações de mulheres completamente diferentes. Sou muito mais livre do que alguma vez elas foram. Tenho muito mais opções ou poder de escolha. Aliás, somos todos diferentes, precisamente, por sermos únicos.

Será que os outros sabem o quanto me custa o peso das máscaras? Ou, melhor, saberemos todos o quanto custa o peso das máscaras que cada um usa e carrega? Será que o egoísmo humano é mais pesado para cada um de nós ou de uns para os outros? Neste constante Baile de Máscaras, podemos nem sequer dar conta de que os pesos e as medidas são todos diferentes e, se calhar, muitos de nós olhamos mais para as dos outros do que para as nossas próprias. Porque dói. Porque varrer as emoções para baixo do tapete é muito mais fácil do que lidar de frente, compreender o que há dentro de cada coração e o que fazer para dele tirar as dores, os desalentos, as raízes podres e construir novas raízes, novos valores, novas formas de se viver a vida — cada um de nós com a sua noção e construção de “felicidade”. E termos a escolha e o poder de não julgar o outro, nem a nós mesmos; de aceitar e assumir decisões, escolhas e caminhos.

Não é fácil, mas pode ser muito menos difícil se sairmos do Baile de Máscaras.

 

About the Author: Inês Biu Faro
Inês Biu Faro
Ainda não conhecia o abecedário quando começou a "escrever". Enchia cadernos com linhas "escritas" à sua maneira, com todos os seus contos de fadas e sonhos. Ao longo da escolaridade, aprimorou o gosto pela escrita e desde que se lembra que escreve diários. Não é fácil ser várias mulheres numa única e só os diários a compreendem, por falar consigo mesma. Escreveu, escreve e escreverá sempre com o coração, com emoção, de uma mulher para tantas outras, de um coração para tantos outros. Tem um manuscrito por editar. Será desta que sairá do forno? Esperemos que sim!

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